FONTE: CFESS
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Nos últimos meses, o que pode ser considerado o maior desastre em área urbana no Brasil e no mundo tem ganhado grande repercussão na mídia. Mas o grave crime ambiental causado pela empresa petroquímica Braskem, pela extração de sal-gema, na cidade de Maceió (AL), não é nada recente para as mais de 60 mil pessoas atingidas diretamente pela tragédia. O local do desastre inclui uma região de mangue, às margens da Lagoa Mundaú, sendo explorado pela empresa há décadas.
O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) vem a público manifestar seu apoio à população atingida, somando-se às vozes que têm denunciado e se movimentado em uma importante mobilização social pelo direito à cidade, à moradia, ao ambiente, ao trabalho e pela identificação dos responsáveis pelo desastre vivenciado em Maceió.
Evidenciamos os desafios enfrentados pelas assistentes sociais que atuam nos territórios impactados pela Braskem e reconhecemos as várias ações que a categoria vem realizando, em defesa do conjunto de direitos e em favor da justiça social.
Em 2018, após fortes chuvas, a população que reside na área próxima de uma das minas da Braskem relatou tremores de terra, que foram sentidos em diferentes bairros localizados na região central da capital alagoana. Acompanhados por rachaduras nas casas, os tremores provocaram o afundamento do solo e abriram crateras nas ruas. De 2018 em diante, cerca de cinco bairros já foram evacuados – transformando os locais em uma cidade fantasma – e mais de 60 mil pessoas tiveram que deixar suas moradias, locais de trabalho e de convivência. Com eles, muitos empregos, histórias e vínculos sociais foram perdidos.
Vale destacar que o desastre não é fruto de uma ação da natureza. A operação da empresa Braskem, antes denominada Salgema, em Maceió, teve início em meados da década de 1970 e só foi interrompida em 2019, após anos de destruição e depredação. Nesse período, vários foram os alertas sobre os riscos que envolviam a atividade extrativista na região. Porém, com a anuência do poder público, a atividade se manteve, criando, ao longo dos anos, espaços vazios abaixo de um local densamente povoado. Por muito tempo, as populações residentes sequer tinham conhecimento que estavam em cima de um solo que era sugado pela atividade mineradora, violando o seu “direito de saber”, face ao potencial de serem atingidas.
Mesmo após a emergência do desastre, indenizações possibilitaram à empresa a ampliação do seu domínio do território alagoano, fortalecendo as estratégias de silenciamento, principalmente do povo pobre e preto, de pessoas que sobreviviam da pesca e de outras trabalhadores e trabalhadores residentes.
O caso da Braskem se apresenta como mais um exemplo da sobreposição de interesses econômicos e políticos de pequenos grupos ao direito de trabalhadoras e trabalhadoras à ocupação e às decisões relacionadas à cidade, ao uso dos bens comuns da natureza e às suas próprias vidas. E impõe a necessidade de se colocar no Serviço social a questão ambiental no centro dos debates sobre os rumos da sociedade, demonstrando que o capitalismo não é compatível com a manutenção da vida em sua diversidade e da natureza.
Conselho Regional de Serviço Social do Maranhão / CRESS-MA
Gestão "Resistir e Esperançar” – 2023/2026