Terminou hoje, 05, na cidade do Recife, o 3º Seminário de Comunicação do CFESS/CRESS. Conselheiras/os, assistentes sociais e assessores/as de comunicação do CFESS e Regionais discutiram o tema “Linguagem, política e redes sociais”. A base da discussão pode ser lida no CFESS Manifesta especialmente preparado para o evento.
A abertura foi feita pelas conselheiras Emanuele Chaves (CRESS-PE) e Sâmya Ramos (presidente CFESS) que destacaram o acúmulo da discussão do tema pela categoria. Em seguida, uma pitada da cultura pernambucana (e nordestina!) foi dada com a apresentação dos cordelistas Marione Bígio eClécio Rimas.
O debate começou com a mesa “Comunicação e Redes Sociais: o Serviço Social na disputa de hegemonia” com o jornalista e membro do Intervozes, Arthur Willian e com a presidente do CFESS, Sâmya Ramos. Para o jornalista “é preciso fazer uma reforma agrária na mídia. Hoje, apenas o segmento empresarial controla a mídia brasileira”. A afirmação vem de pesquisas do Intervozes que mostram que sete famílias/grupos detém o controle de veículos de comunicação no Brasil: Marinho (Globo), Abravanel (SBT), Saad (BAND), Macedo (IURD), Civita (Abril), Frias (Folha de São Paulo), Mesquita (O Estado de São Paulo). Esses veículos não representam a diversidade de discursos da democracia brasileira que está em formação. Eles tão somente se apropriaram de uma concessão pública, sem contudo, garantir o direito humano à comunicação. Sobre o tema, o jornalista reforçou a necessidade de assinatura de abaixo-assinado que propõe, por iniciativa popular, o Projeto de Lei da Mídia Democrática.
O jornalista explicou que a comunicação tem a característica de poder convergir múltiplas plataformas. Uma mensagem pode ser comunicada com o uso do SMS, mas também pode se valer de blog, site, redes sociais etc. No caso das redes sociais, o cuidado é de entender que não é um canal de muita informação. “É um canal dialógico. É preciso ‘escutar’ e saber qual conteúdo se deve produzir. O aprofundamento do assunto vai acontecer em outros canais, como um site ou blog, por exemplo”, esclareceu o jornalista.
Samya Ramos destacou o avanço das discussões sobre a comunicação e sua importância no projeto ético-político da categoria e na promoção dos direitos humanos como princípio. Tratando especificamente sobre redes sociais a presidente fez análise das mobilizações que aconteceram no Brasil recentemente e que contaram com a amplitude dada por essas redes. “Queremos entrar na rede pra promover debate e juntar. Juntar para construirmos uma outra sociedade”, declarou a presidente do CFESS, ressaltando que a mobilização social feita nas ruas é importante para que a virtual aconteça.
À tarde, o debate efervescente ficou por conta do tema “Política, linguagem não discriminatória e Serviço Social”. A linguista Jonê Baião, a jornalista e historiadora Sandra Machado e a assistente social Kênia Figueiredo apresentaram pontos de vista e reflexões sobre que linguagem se usa ou não para transportar os discursos do CFESS/CRESS e sobre o Serviço Social no diálogo com a imprensa, sociedade e usuários/as.
A decisão da categoria, em Encontro Nacional, para o uso de uma linguagem não sexista e discriminatória, contemplando, por exemplo, palavras no masculino e no feminino, quando o comum é ter apenas no masculino, representa uma experiência válida para habituar as pessoas em novos modos de falar e escrever. “A língua não representa a realidade; ela ajuda a criar realidade. A língua portuguesa é preconceituosa porque os homens e mulheres que usam essa língua são preconceituosos. A gente quer uma língua democrática porque a gente quer uma sociedade democrática”, declarou a Jonê Baião.
“Mulheres participaram da construção da História do mundo, mas esse trabalho foi colocado pra debaixo do tapete”, comentou Sandra Machado. A jornalista falou da experiência positiva do Blog da Igualdade, único no país vinculado a jornal da chamada “grande mídia”, o Correio Brasiliense, e que aborda o tema dos direitos humanos. “Buscamos o resgate da história das mulheres e de outros povos que foram tornados invisíveis”, explicou.
A assistente social Kênia Augusta Figueiredo também ressaltou a expressiva participação de assessores e de assistentes sociais no evento, representando as reflexões feitas pelas gestões anteriores. A reflexão trazida pela assistente social foi de que o Serviço Social tem se alterado na era das comunicações, impactando na forma como profissionais são formadas/os e como se produz e dissemina conhecimento para a qualidade do serviço prestado. “O boca a boca agora é eletrônico”, declarou a palestrante exemplificando com o caso do boato de extinção do Programa Bolsa Família.
Kênia discorreu sobre o uso significativo da comunicação oral na relação com usuárias/os e também de uma linguagem burocrática, por conta de termos técnicos e da linguagem em documentos oficiais. A palestrante alertou que há um processo perigoso de naturalização dessa linguagem técnica. “Quando usamos isso [linguagem burocrática] com “os outros”, fazemos a reprodução hierárquica que tanto questionamos! Uma coisa é conversarmos entre nós, até para validar nossa produção científica; outra, é conversarmos com a mídia, com a sociedade, com a/o usuária/o”.
De acordo com a pesquisa para sua tese de doutorado, Kênia afirmou que esse tem sido um ponto unânime entre profissionais da comunicação, sejam do CFESS/CRESS, da imprensa ou de órgãos que lidam com o Serviço Social. “Assistentes sociais têm que descomplicar a linguagem”, comentou. “Precisamos invocar a questão da mediação pra categoria. Tão importante quanto não discriminar é comunicar o que é preciso. Precisamos nos convencer que a linguagem faz parte do nosso trabalho assim como a sala privada. Temos que mediar com palavras e com sentido”, concluiu a assistente social.
Troca de experiências
No segundo e último dia do 3º Seminário de Comunicação CFESS/CRESS a programação contou com a apresentação da pesquisa de comunição do Conjunto, feita pelos assessores de comunicação do CFESS Diogo Adjuto e Rafael Werkena. A pesquisa mostrou que as ações de comunicação são desenvolvidas em estruturas diversas: desde a contratação de profissional de comunicação para cobrir evento específico, passando por profissionais concursados, contratação de agências e até equipes multiprofissionais. Site, Facebook e impressos têm sido ferramentas importantes no diálogo com a categoria.
O CRESS-SP trouxe como experiência positiva o fato de estar conseguido atuar na área da assessoria de imprensa. Atualmente há inserções diárias na mídia e o Regional é referência para jornalistas, inclusive em temas transversais, como o caso do Programa Mais Médicos. “A interatividade com a categoria e a assessoria de imprensa são desafios que precisamos enfrentar e avançar nos próximos anos” afirmou Rodrigo Benotti, assessor do CRESS-ES.
O CRESS-RJ destacou a experiência de realizar pesquisa sobre a comunicação, onde foi constatado que a categoria tem preferência pelo jornal impresso.
Para o CRESS-MG, o avanço da política de comunicação no Regional foi alcançado com a reunião sistemática da comissão de comunicação, que é formada por 3 conselheiras/os da sede, 1 representante de cada seccional e pela equipe de comunicação. No formato de trabalho, as reuniões sistemáticas e mensais definem as pautas, as estratégias para o período e até o prazo de aprovação de pautas, uma vez que no relacionamento com a imprensa a resposta deve ser breve.
A assessoria de comunicação do Maranhão apresentou os avanços do Regional, com o envio semanal de boletim eletrônico; criação de página de Facebook; atualização semanal do site; e a ocupação de espaços na mídia local, através de notícias e entrevistas em rádio, TV e jornais impressos.
Foram destacadas as ações para melhorar o relacionamento do CRESS-MA com a mídia local. Uma das iniciativas é a realização de curso voltado para as conselheiras sobre como falar com a imprensa, conhecido pelo termo técnico media traning. Outra ação é a publicação de um banco de fontes para jornalistas. Trata-se de uma publicação com nomes e contatos de assistentes sociais e de organizações vinculadas ao Serviço Social que sejam aptos a falar sobre determinado tema. “Se um/uma jornalista precisar de alguém que fale sobre a questão agrária, ou sobre o Serviço Social nos hospitais, ou sobre medidas socioeducativas ele poderá consultar a publicação e terá alguém com domínio no assunto para entrevistar”, explica a assessora de comunicação do CRESS-MA, Andréia Barbosa.
O 3º Seminário de Comunicação CFESS/CRESS demonstrou que o Conjunto CFESS/CRESS está no caminho certo ao incorporar uma política de comunicação que vai além da visão instrumental da área, mas a considera enquanto direito humano. A comunicação para o Conjunto deixa de ser mero serviço que fala do que os Regionais e o Federal fazem e passa a se constituir num elemento importante de consolidação do projeto ético-político da categoria. A interatividade com a categoria e com a imprensa e diminuição na rotatividade das equipes, em função das condições de trabalho são os desafios a serem enfrentados.